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Foto do escritorLuis Fernando

Cooper Blackk

A escolha da tipografia é uma etapa de grande importância em um projeto de design

gráfico. Essa escolha é fundamental para garantir um desempenho positivo na estratégia pretendida, tanto no que tange ao público-alvo quanto no âmbito da proposta do conteúdo. Além disso, muitas fontes tipográficas possuem uma história relevante de criação e do contexto de suas exibições e isso é considerado por muitos designers na hora de utilizar tais tipografias. Um exemplo é a fonte Cooper Black, que foi muito utilizada na década de 70 em um contexto de resistência cultural negra e foi considerada uma ameaça por tipógrafos tradicionais da época. A utilização dessa fonte, bem como de qualquer outra em um projeto gráfico, não pode ser vista como ocasional ou acidental. Tudo é pensado em mínimos detalhes e, sobre o uso de uma fonte tão carregada de história como a Cooper Black, não se deve ignorar a mensagem que a peça publicitária quer passar, muitas vezes fazendo referência aos quesitos raciais próprios da origem e disseminação da fonte. Um exemplo é a atual série lançada e produzida pela Netflix, Dear White People.



O movimento negro americano


O movimento negro americano, ou conhecido como movimento por direitos civis foi uma onda de manifestações de diferentes viés que ocorreram nos Estados Unidos em busca de condições de igualdade para a população negra. Para entender a importância da organização desse movimento na década de 60 é necessário compreender toda a complexa história de segregação que envolve a formação dos Estados Unidos. O país, assim como o Brasil, foi uma nação escravista, e em sua formação manteve várias heranças do período escravocrata. Como as leis de segregação racial, que após o fim da escravidão foram implantadas em alguns estados norte americanos, os do sul. Após o fim da guerra civil norte-americana, com a vitória dos Estados do Norte, que defendiam o fim da escravidão, liderados pelo então presidente Abraham Lincoln, teve como uma das consequências a suspensão da escravidão em todo o território norte-americano. Mesmo com a liberdade concedida aos negros, a resistência a tal política ainda era alta nos estados do sul e durante esse período de pós guerra civil foi criada a Kux Klux Klan por um ex combatente das tropas sulistas. Além das comentadas anteriormentes leis de segregação racial, conhecidas como Leis de Jim Crow, essas leis exigiam que locais públicos tivessem repartições entre brancos e negros.

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A partir da década de 50, após muitos anos de cerceamento de direitos a população negra e violências sofridas de toda a forma possível, diversos movimentos que lutavam pela igualdade de direitos começaram a ganhar visibilidade no país. Entre eles a Conferência da Liberdade Cristã do Sul, fundada por Martin Luther King jr, que tornou-se mundialmente conhecido por sua proposta de ativismo pacifista. Passando pelo ativismo separatista de Malcom-X que defendia um estado somente para os negros até os Panteras Negras, grupo de viés marxista que militava de maneira mais radical. Em decorrência de toda a pressão que esses grupos fizeram e a visibilidade que ganharam na época, com Luther King ganhando um nobel da paz em 64 e a histórica Marcha sobre Washington, o então presidente americano Lyndon Johnson promoveu a Lei dos direitos civis de 1960, concedendo aos negros o fim da segregação racial em espaços públicos. Entretanto, é de conhecimento geral que mesmo o racismo sendo superado por vias legais no Estados Unidos, a população negra americana ainda segue sendo discriminada. Ao longo das décadas diversas formas de resistência e de manifestação foram usadas pelos negros principalmente para reivindicarem igualdade de oportunidades em relação a população branca, denúncia de violência policial e o racismo. Entre essas manifestações culturais de resistência, uma bastante conhecida foi o hip hop, que durante os anos 70 ajudou a popularizar a fonte Cooper Black, usando a mesma nos uniformes e discos.



Origem da forma tipográfica


A chamada Fonte Black Cooper foi desenhada em 1921 pelo artista Oswald Bruce Cooper (1879), visto como versátil e imaginativo, foi estudante da Escola de Ilustração Frank Holme e mais tarde tornou-se praticante do Chicago Style, onde juntou o uso da tipografia e habilidades caligráficas para criar uma maneira de publicidade na qual misturavam-se estilos clássicos e modernos. A fonte, que teve seu lançamento apenas em 1922, pela Barnhart Brothers & Spindler, seria apenas uma sequência da fonte Cooper Old Style, no entanto o que se percebe é que tal tipografia causou bastante impacto no meio publicitário nos anos 20, sendo assim, uma escrita que ressalta as “fat faces”, com um suas serifas arredondadas e seu caráter divertido e legível, sendo até mesmo alvo de cópias em decorrência de seu grande destaque.

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Cooper Black e sua presença em grupos de dança


Na década de 1970, em um cenário de Contracultura negra, é possível discorrer sobre o uso da fonte em diferentes tipos de blusas, bonés que possuíam o ideal DIY (do it yourself) tendo assim presença em vestuários de grupos de street dance e suas performances. O que se percebe, é que até hoje tal tipografia possui ligação com o movimento Hip Hop.

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Uso na publicidade e na Cultura Pop


A Cooper Black foi uma fonte muito utilizada nas publicidades entre as décadas de 1920 a 1940. Apesar de seu grande sucesso nas campanhas, a fonte não foi muito bem recebida pelos críticos da época, sendo chamada de “The Black Menace” (A Ameaça Negra) por tipógrafos tradicionais. Levando em conta o contexto social americano da época, percebe-se que esse “apelido” é carregado de racismo e, até mesmo, medo do novo e “negro”.

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Durante a década de 1950, a Cooper Black não foi muito utilizada. Entretanto, voltou com bastante força na metade dos anos 1960 na Cultura Pop. Alguns dizem que essa retomada ocorreu devido ao lançamento do álbum “Pet Sounds”, dos Beach Boys. Não se sabe com certeza o que ocasionou a volta do sucesso da fonte, mas é incontestável que nos séculos seguintes a Cooper Black se firmou como um ícone do design do século XX. Diversos artistas lançaram álbuns com a capa protagonizada por ela. Veja abaixo:

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Cooper Black em “Dear White People”


Dear White People (ou Cara Gente Branca) é uma série da Netflix que estreou no dia 28 de abril de 2017. Baseada em um filme de mesmo nome, Dear White People é uma comédia bem diferente do que estamos acostumados a ver na plataforma. Apesar de poder se encaixar no estilo “série de humor negro”, Dear White People tem como foco, não apenas entreter o telespectador numa trama bem humorada, mas também falar sobre a questão racial nos Estados Unidos.

Dear White People conta a história de Sam White (Logan Browning) e outros estudantes negros de uma universidade majoritariamente branca nos Estados Unidos. Cada episódio da série foca em um personagem e nas questões raciais que os envolvem. No primeiro episódio, os jovens negros da universidade invadem uma festa de Halloween, organizada por alunos brancos, com a temática black face, revoltados com a situação os estudantes negros invadem e acabam com a festa. Depois desse acontecimento, diversas tensões raciais na faculdade são intensificadas e tratadas na série durante as suas 2 temporadas.

Dirigida por Justin Simien (mesmo que dirigiu o filme de 2014, no qual a série foi baseada), Dear White People traz diversas referências do movimento negro para a série, uma delas é a fonte Cooper Black. A fonte que esteve presente em vários trabalhos icônicos da cultura negra, foi amplamente utilizada na série de TV, podendo ser vista no logotipo da série, nos títulos, nos créditos e em quase toda a parte de texto do show.

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Para muitos, o tipo de fonte utilizada na série pode passar despercebida, mas para aqueles que se interessam por tipografia, a Cooper Black se destaca com um personagem muito importante em Dear White People. A escolha da fonte para a série não foi à toa, foi considerado todo o seu contexto histórico e a importância da fonte para o movimento negro. Para os negros norte-americanos a Cooper Black tem um significado muito importante e colocá-la na série de TV é reforçar a mensagem de empoderamento da negro, cujo a série tem como objetivo.

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